sábado, 12 de dezembro de 2015

Leo e Lia


Leo deu o coração para Lia,
Mas a paixão acabou.

Então desejou ser solto.
Preferiu acompanhar a multidão,
Que somar solidão com ela.

Partiu-se!

E descobriu que coração ido não volta.

Virou cientista,
Se envolveu com arte de desenvolver coração in vitro,
Tentou se clonar para se dar outra vez:
Não deu.

A Leo sobrou sonhar com os filhos que não teve
E amá-los com todo o vazio do seu peito;
Lembrar-se da cerimônia sem Lia e sem Leo
Que desexistiu.

Fez-se aritmético de vida,
Conhecedor das variáveis,
E viveu de resolver os problemas que não tinha.

Não conheceu, contudo, a rotinas das árvores...

Findou ventado pelo tempo, sem casa.
Secou-se, tombado por sapos e cogumelos,
Que viveram e se amaram no eco de sua casca.



*

Esse poema eu escrevi, se me lembro bem, no aeroporto El Nuevo Dorado, em Bogotá. Estava viajando para encontrar os meus pais e fiz conexão por lá, uma conexão bem longa. Como esses entrelugares me inspiram, eu escrevi bastante. Tinha acabado de ler também "O Retrato do Artista Enquanto Coisa"do Manoel de Barros. Em tudo o que eu escrevi naquele interlúdio, eu imitei o Manoel. Hoje, antes de postar aqui, fiz umas adaptações para que esse poema ficasse um pouco mais meu. E é isso, não posso dizer mais sem me entregar, e dessa vez eu vou preferir não me entregar mesmo. Espero que tenham gostado.

2 comentários:

  1. Lindo Gabi, adoro Manoel de Barros, sua inspiração ficou linda nessas palavras! Grata surpresa te encontrar aquele dia na rodoviária! Abraço amigo!

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